sexta-feira, 9 de julho de 2010

Os Recifes de Coral

Em geral usa-se o termo “de coral” devido ao papel preponderante que esses organismos têm em recifes de diversas partes do mundo. Sob o ponto de vista biológico, recifes coralíneos são formações criadas pela ação de comunidades de organismos denominados genericamente como corais. Embora a estrutura básica de recifes biogênicos seja em geral formada pelo acúmulo dos esqueletos desses animais, para sua formação é necessária a atuação conjunta de uma infi nidade de seres, montando complexa teia de associações e de eventos em sucessão. Em alguns recifes,
inclusive do Brasil, o crescimento de outros organismos, como algas calcárias, pode assumir relevância igual ou maior que a dos próprios corais (KIKUCHI & LEÃO, 1997). Além desses, outros organismos podem formar grandes depósitos de carbonato de cálcio, como algas rodófitas, gastrópodos, poliquetas ou até mesmo ostras (CASTRO, 1999).
Os corais recifais necessitam de águas quentes para desenvolver-se adequadamente. Assim sendo, os recifes formados por esses animais ocorrem em uma ampla faixa que circunda o planeta e que pode ser dividida em duas partes quase iguais, pela linha do equador. Por essa razão, freqüentemente a distribuição dos recifes de corais é usada para delimitar os mares tropicais do mundo (Figura 4.48).
Os recifes de coral são considerados um dos mais velhos e biodiversos ecossistemas da Terra.
Dessa forma, sua importância ecológica, social e econômica é indiscutível. Os ambientes recifais são considerados, juntamente com as fl orestas tropicais, uma das duas mais diversas comunidades naturais do planeta (REAKA-KUDLA, 1997).
Essa enorme diversidade de vida pode ser medida quando constatamos que uma em cada quatro espécies marinhas vive nos recifes de coral, incluindo 65% dos peixes (SPALDING, 2001). Devido à capacidade desses ecossistemas de construir verdadeiras cidades, quase que cada fi lo animal do planeta tem neles um representante (SALVAT e PAILHE, 2002). De uma lista de 34 fi los de animais, 32 são encontrados nos recifes de coral, enquanto que apenas nove são encontrados nas fl orestas tropicais.
Seu processo de vida é extremamente complexo, possuindo alto grau de interdependência
entre os organismos. A especialização dos organismos reduz a elasticidade do ecossistema, tornando-o frágil e mais suscetível ao desgaste e às mudanças no meio. Por isso tem sido um dos primeiros ecossistemas a responder aos impactos advindos das mudanças climáticas globais (REAKA-KUDLA, 1997 e SPALDING et al., 2001).
A saúde dos recifes é um assunto crítico para centenas de milhões de pessoas nos trópicos que dependem desses recifes para seu sustento e cultura. No total estima-se que 500 milhões de pessoas vivendo em países em desenvolvimento têm algum tipo de dependência de recifes de coral (WILKINSON, 2002).
No Brasil, os recifes de coral se distribuem por cerca de 3 mil km da costa Nordeste, desde o Sul da Bahia até o Maranhão, constituindo-se nos únicos ecossistemas recifais do Atlântico Sul
(MAIDA e FERREIRA, 1997).
A maioria das espécies de corais que formam esses recifes é endêmica de águas brasileiras, onde contribuem para a formação de estruturas que não são encontradas em nenhuma outra parte do mundo, o que os torna particularmente importantes (MAIDA et. al., 1997). Das mais de 350 espécies de corais existentes no mundo, dezoito delas ocorrem no Brasil, das quais oito são endêmicas, ou seja, encontram-se apenas nos mares brasileiros. Esse fato confere aos nossos recifes a maior proporção de endemismo de corais do planeta.
Como já ressaltado, os recifes de coral apresentam grande importância biológica por serem os sistemas marinhos de maior diversidade. Os ambientes coralíneos são também importantes para o homem em diversos aspectos (CASTRO, 1997):
• em termos físicos – protegem as regiões costeiras da ação do mar em diversas áreas do litoral brasileiro;
• em termos biológicos – a grande diversidade e quantidade de organismos presentes associam-se em teia alimentar de grande complexidade, culminando nos grandes predadores, e a maioria desses organismos é utilizada como recurso pesqueiro para alimentação humana. Além disso, os recifes funcionam como verdadeiros criadouros de peixes, renovando estoques e, principalmente no caso de áreas protegidas, favorecendo a reposição de populações de áreas densamente exploradas;
• em termos bioquímicos – os ambientes coralíneos também fornecem matéria-prima para pesquisas na área farmacológica. Devido à complexidade das cadeias alimentares e à intensa competição por espaço entre os organismos sésseis3, muitos organismos dos recifes produzem inúmeras substâncias químicas, que são utilizadas para proteção contra predadores, inibição da ocupação do espaço por competidores e outras funções. Pesquisadores em farmacologia buscam extrair e isolar tais substâncias, testando suas propriedades em tratamento de doenças e disfunções no homem.
Devido ao uso desordenado ao longo dos anos, diversos recifes brasileiros, principalmente os costeiros, encontram-se em acelerado processo de degradação. Evidências indicam que uso inadequado desses ecossistemas por pescadores, atividades turísticas, mau uso da terra na orla marítima e nas margens dos rios (causando o aumento do aporte de sedimentos) e poluição costeira podem estar comprometendo o futuro desses ambientes (MAIDA et.
al., 1997). No Brasil, apesar dessas indicações de degradação, não temos uma visão detalhada do estado da saúde da maioria dos recifes, nem uma avaliação das principais causas antrópicas, ou mesmo naturais, que estão gerando alterações em diferentes áreas recifais.
Mapas com localização e área de cobertura dessas formações eram também raros, devido à impossibilidade de se utilizar técnicas tradicionais de sondagem nas extensas regiões rasas em que os recifes ocorrem.
Por ocasião do seminário Avaliação e Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade da Zona Costeira e Marinha (Porto Seguro, BA, de 25 a 29/10/99), do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (Probio), os diversos especialistas e técnicos presentes no evento deram origem ao mapa de áreas prioritárias para a conservação dos recifes de coral, visto na Figura 4.51. Durante o seminário, o grupo identifi cou, ainda, as lacunas de conhecimento nessas áreas e fez recomendações de diversas ações a ser desenvolvidas futuramente (MMA/PROBIO, 2002).
Para atender a parte dessas indicações, a Diretoria de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente desenvolveu o projeto Estudos nos Recifes de Coral Brasileiros: treinamento e aplicação de técnicas de mapeamento por sensoriamento remoto. Tal projeto deu origem à publicação inédita dos primeiros mapas do sistema recifal brasileiro; o foco do mapeamento foram as unidades de conservação existentes (MMA, 2003).
Em toda a extensão dos 3 mil km de litoral em que os recifes ocorrem, existem nove
unidades de conservação marinhas, entre federais, estaduais e municipais, que englobam comunidades recifais signifi cativas.
Das nove unidades de conservação existentes, duas delas encontram-se em ilhas oceânicas:
a Reserva Biológica do Atol das Rocas e o Parque Nacional Marinho de Fernando de
Noronha (ambas designadas como Sítio do Patrimônio Mundial Natural, em 2002), três nos limites de distribuição de recifes – Parque Estadual do Parcel do Manoel Luís, MA ( esignado como sítio RAMSAR4, em 1999), Parque Nacional Marinho dos Abrolhos e Área de Proteção Ambiental Estadual da Ponta da Baleia, BA – e quatro em áreas mais costeiras:
Área de Proteção Ambiental Estadual dos Recifes de Corais, RN, Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, PE-AL, Reserva Extrativista Marinha do Corumbau, BA e o Parque Municipal (PM) do Recife de Fora, Porto Seguro, BA (Figura 4.52).
Vale ressaltar que o esforço empregado no mapeamento se traduziu em uma primeira
aproximação da área dos ambientes recifais, uma vez que corresponde apenas aos recifes rasos presentes nas unidades de conservação. Muito ainda há por se descobrir e mapear nesse importante ecossistema brasileiro.

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