RECURSOS NÃO-VIVOS
Os oceanos encerram importantes recursos minerais de interesse econômico, alguns situa- dos sobre o fundo marinho, outros abaixo do fundo, nas camadas sedimentares adjacentes às margens continentais ou mesmo em regiões distantes das margens dos continentes, em bacias oceânicas, cordilheiras mesoceânicas e montes e cadeias de montes submarinos.
A própria água dos oceanos é por si só um bem mineral e uma fonte sustentável de elementos economicamente importantes, como por exemplo: Cl, Na, Mg, K, Br, Sr e B. Em muitos países, a água do mar constitui a principal fonte de sal para consumo humano, como é o caso do Brasil, que extrai todo seu sal de cozinha (NaCl) a partir da evaporação da água marinha proveniente das salinas do Nordeste e do Rio de Janeiro.
A maioria dos recursos minerais encontrados nos oceanos está relacionada a ambientes geológicos específicos e, portanto, à interação entre a água do mar e outros agentes, tais como aporte sedimentar de rios, atividade biológica e vulcanismo. Dessa forma, diversos mecanismos de enriquecimento, os quais muitas vezes agem conjuntamente, levam à formação de jazidas minerais. Entre esses mecanismos, figuram a precipitação, a sedimentação, o metabolismo biológico, a concentração diagenética e a atividade vulcânica.
A formação dos depósitos minerais marinhos é conseqüência da evolução geológica das margens continentais e das bacias oceânicas e, por isso, em escala global, pode ser entendida dentro dos conceitos da tectônica de placas, onde se observa que a maioria das grandes ocor- rências de minérios é controlada por processos geológicos nos limites de placas. os processos hidrotermais parecem concentrar a maioria das jazidas de sulfetos metálicos nos limites de placas convergentes e divergentes. A deposição de evaporitos e enxofre está associada ao processo de formação dos ocea- nos em sua fase inicial, enquanto os depósitos de fosforitas e nódulos polimetálicos têm o seu desenvolvimento em fase de oceano aberto sob condições físico-químicas favoráveis (ASMUS e GUAZELLI, 1981).
Os recursos minerais marinhos podem ser superficiais ou subsuperficiais e podem ser de natureza não-metálica, metálica ou energética. Possuem ampla distribuição geográfica, desde as proximidades da linha de costa, em plataformas, taludes e sopés continentais, nas planícies abissais, nos flancos e eixos das cordilheiras meso-oceânicas, até os flancos e topos de montes e cadeias de montes submarinos.
Apresenta-se a seguir uma breve descrição sobre a gênese e o modo de ocorrência desses bens minerais, discorrendo-se também sobre as principais áreas em exploração dos recursos minerais mari- nhos nos oceanos mundiais e, particularmente, na Zona Econômica Exclusiva brasileira. Os recursos minerais energéticos, derivados dos hidrocarbonetos (petróleo e gás natural), serão tratados com mais detalhes também neste capítulo. No Brasil e no mundo os hidrocarbonetos de petróleo constituem o principal bem mineral explorado nos oceanos. Sua extração aplica a mais sofisticada tecnologia e implica os mais altos custos da indústria extrativista de bens minerais em todo o mundo.
RECURSOS MINERAIS NÃO-METÁLICOS SUPERFICIAIS
Entre os principais recursos não-metálicos que ocorrem no fundo submarino, estão os granulados terrígenos e carbonáticos, os placeres (minerais pesados) e as fosforitas.
Granulados
Os granulados são cascalhos, areias e argilas, de origem continental (terrígena) ou de origem marinha – neste caso, formados por fragmentos de carapaças e esqueletos de organismos ma- rinhos, normalmente com composição carbonática (CaCO3), mas também silicosa (SiO2) – que ocorrem principalmente nas margens continentais, mais especificamente nas regiões litorâneas e nas plataformas continentais (Figura 5.17). Atualmente, depois dos recursos energéticos, os depósitos marinhos são os recursos mais extraídos do fundo dos oceanos. De acordo com sua origem, podem ser classificados em materiais litoclásticos, provenientes da erosão das rochas cristalinas ou sedimentares, ou como materiais bioclásticos, provenientes da fragmentação e do remanejamento de carapaças e esqueletos de organismos marinhos após sua morte.
Em sua grande maioria, os depósitos de granulados marinhos litoclásticos foram forma- dos pelo afogamento de antigos depósitos fluviais, em decorrência das variações positivas do nível de mar relativo durante o período Quaternário. Sabe-se que o Quaternário, último perío- do na escala de tempo geológico da Terra (últimos 2,6 milhões de anos), foi marcado por uma alternância de épocas glaciais e interglaciais, acompanhadas por variações significativas do nível do mar. Nos períodos glaciais, a formação das calotas polares foi a principal responsá- vel pela retirada de água dos oceanos, fazendo com que o nível do mar sofresse rebaixamento
de até 150 m em certas regiões, provocando o prolongamento dos cursos fluviais por toda aextensão da atual Plataforma Continental e favorecendo a retomada erosiva para restabelecer o perfil de equilíbrio dos canais. Nos períodos interglaciais subseqüentes, a água de degelo foi redirecionada para os oceanos, provocando o afogamento de antigos vales e depósitos fluviais formados nas fases glaciais anteriores, sobre o que hoje constitui a plataforma continental. Esses depósitos foram então retrabalhados pelas correntes marinhas, constituindo as jazidas de areia e cascalho submarinas, atualmente presentes em diversas regiões das Plataformas Continentais em todo o mundo (Figura 5.18).
Nas áreas onde existem montanhas próximas à costa, ou em regiões de latitudes altas a
médias, podem ocorrer depósitos de cascalhos terrígenos, que são transportados por fluxos
gravitacionais das encostas íngremes ou pela ação das geleiras (principalmente nas épocas glaciais) para a região litorânea. Ao largo de planícies costeiras, ou em regiões de baixas latitudes, os depósitos predominantes de gra- nulados litoclásticos atuais são formados por areias e lamas terrígenas originárias da erosão de falésias ou associadas às desembocaduras de sistemas fluviais importantes.
Como exemplos mundiais de regiões com exploração de granulados litoclásticos, podemos citar o Sudeste do Mar do Norte, a Sudeste da Inglaterra e Oeste do Pacífico e a Oeste do Japão. Dentre os principais países envolvidos na exploração de granulados mari- nhos litoclásticos, destacam-se Japão, França, Inglaterra, Estados Unidos, Países Baixos e Dinamarca. Os cascalhos e as areias terrígenos são utilizados principalmente na indústria da construção; já as argilas terrígenas são usadas para confecção de cerâmicas.
Grandes extensões da Plataforma Continen- tal brasileira são recobertas por areias quartzo- sas (AMARAL, 1979) – com pouco mais oupouco menos feldspatos –, destacando-se os depósitos arenosos adjacentes aos estados do Pará e do Maranhão, os existentes na Plataforma Continental Sudeste e Sul, com importantes ocorrências adjacentes ao litoral Nordeste do Estado do Rio de Janeiro, na Plataforma interna à média entre São Paulo e nordeste de Santa Catarina e na plataforma interna ao sul da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul (Figura 5.19).
Os depósitos marinhos bioclásticos de cascalhos e areias carbonáticas (biodetritos) são cons- tituídos por conchas inteiras ou fragmentadas, por fragmentos de recifes, nódulos e crostas de algas calcárias, que ocorrem preferencialmente em regiões de baixas a médias latitudes. Eles concentram-se na plataforma continental média, no entanto alguns depósitos podem ocorrer em maiores profundidades na plataforma continental externa, sendo, em sua maioria, depósitos
fósseis, formados em condições de nível de mar baixo.
Alguns tipos de algas, como resultado de seu metabolismo, induzem a precipitação do CaCO3 da água, formando um esqueleto endurecido. Essas algas, conhecidas como algas calcárias, per- tencem principalmente aos grupos das algas vermelhas e algas verdes. As algas vermelhas corali- náceas incluem o grupo Rhodophyta, que é exclusivamente marinho, representado por diferentes gêneros de algas calcárias encrustantes, como Lithophyllum e Porolithon. Essas algas calcárias são comuns em águas tropicais, podendo ocorrer até mesmo em altas latitudes e, muitas vezes, desenvolvem nódulos de até 20 cm de diâmetro, conhecidos como rodolitos (Figura 5.20).
Os granulados carbonáticos são usados principalmente no cimento, na cal, na alimentação animal e na correção de solos ácidos, sendo explorados comercialmente por diversos países, com destaque para a França.
No Brasil, os granulados carbonáticos, principalmente constituídos por detritos, nódulos, crostas e recifes de algas calcárias, ocorrem em diversas regiões, quase sempre na plataforma externa, desde a foz do rio Amazonas até ao largo do Estado do Ceará. De Fortaleza (CE) até a cidade de Ilhéus, na Bahia, os depósitos de algas calcárias, com teores superiores a 75% de carbonatos, dominam praticamente toda a sedimentação da Plataforma Continental. As maio- res ocorrências de depósitos carbonáticos da Plataforma Continental brasileira (com teores
superiores a 95% de carbonatos) situam-se no Sul da Bahia e Norte do Espírito Santo, sendo representadas pelos complexos de re- cifes de algas calcárias e recifes de corais que constituem os bancos de Royal Charlote e Abrolhos. O desenvolvimento desses com- plexos recifais nessas regiões deve-se, entre outras causas, à existência de um embasamen- to rochoso relativamente raso, formado pelas rochas vulcânicas do complexo de Abrolhos, que serviu de suporte para o crescimento dos recifes. De Vitória (ES) até a latitude de Cabo Frio (RJ), os depósitos carbonáticos de algas calcárias estão presentes na Plataforma Continental externa, sendo constituídos por areias e cascalhos nodulares com teores supe- riores a 75% de carbonatos. Daí até o Sul do País, os depósitos carbonáticos ocorrem em bolsões descontínuos, quase sempre na plata- forma externa, sendo que nessas ocorrências as algas calcárias deixam de ser dominantes, sendo substituídas por outros organismos mais diversificados, incluindo moluscos e briozoários. Ao largo do Farol de Albardão (RS), ocorrem concheiros de moluscos nas cavas de bancos da plataforma interna, com teores elevados de carbonato (Figura 5.21).
Não existe ainda exploração comercial de granulados bioclásticos na margem continental brasileira, contudo, algumas empresas já solicitaram permissão de exploração ao Departamento Nacional da Produção Mineral em áreas na plataforma continental do Espírito Santo e Maranhão.
Depósitos de minerais pesados
Acumulações sedimentares formadas pela concentração mecânica de minerais detríticos densos, de valor econômico, estão presentes nas praias e nas plataformas continentais. Esses minerais detríticos são derivados da alteração e da erosão das rochas continentais e, geralmente,conhecidos como minerais pesados, em função de sua alta gravidade específica, superior à do quartzo (2,65). Os minerais pesados incluem diversos bens metálicos, como o ouro, a platina e a magnetita, minerais não-metálicos, como os óxidos de titânio (ilmenita e rutilo), o zircão e a mo- nazita, de grande interesse industrial e ainda algumas gemas, como o diamante.
A ação das ondas e das correntes costeiras sobre os sedimentos das praias provoca a retirada dos minerais menos densos (principalmente o quartzo), concentrando os mais densos, formando os depósitos de minerais pesados, denominados de placeres (Figura 5.23). Esses depósitos praiais podem ser posteriormente afogados por eventos de elevação do nível do mar, permanecendo como corpos sedimentares submersos na plataforma continental. Durante eventos de rebaixamento do nível do mar, ou em função do avanço da linha de costa em áreas de sedimentação intensa (por exemplo, nas desembocaduras de rios), os placeres de praia também podem ficar preservados na planície costeira, como depósitos marinhos elevados, conhecidos como terraços.
A extração de bens minerais metálicos derivados de placeres marinhos ocorre em diver- sas partes do mundo. O afogamento de antigos vales fluviais, durante as fases de elevação do nível do mar, resultou na formação dos depósitos de cassiterita (SnO2), atualmente sub- mersos nas plataformas continentais da Tailândia, da Malásia e da Indonésia, que estão em exploração já por quase um século, nas regiões próximas da costa. Minerações de magnetita (Fe2O4) em placeres marinhos desenvolvem-se em regiões do Japão e da Nova Zelândia; o ouro é explorado em praias do Alaska (EUA); cromita (FeCr2O4), ouro, platina e outros minérios pesados, em praias do Oregon (EUA).
Alguns minerais industriais são explorados predominantemente em placeres costeiros, como o zircão (ZrSiO4), que é extraído das praias do Leste da Austrália (Seibold e Berger, 1996), que fornecem cerca de 70% da produção mundial desse mineral. É comum a extração de ilmenita (FeTiO3) em diversas praias, como
na Califórnia e na Flórida (EUA) e na província de Kerala (Índia). Dentre os depósitosmarinhos de gemas, destacam-se os placeres de diamantes em praias e na plataforma continental do Sudoeste da África, principalmente na Namíbia e na África do Sul.
No Brasil, as principais áreas de explo- tação de minerais pesados ocorrem em pla- ceres associados a terraços marinhos eleva- dos, situados acima ou adjacentes a falésias do Grupo Barreiras (sedimentos de origem continental, formados no Terciário Superior, que ocorrem na forma de tabuleiros em grande parte do litoral Leste, Nordeste e Norte
do Brasil). Os principais depósitos já explo- tados, ou em fase de explotação, situam-se no litoral da Paraíba, do Sul da Bahia, do Espírito Santo e do Norte do Estado do Rio de Janeiro (Figura 5.24). Nos locais onde os sedimentos do Grupo Barreiras atingem o litoral, observa-se, na praia atual, a ação prepon- derante de ondas e correntes costeiras, provocando a erosão das falésias e concentrando os minerais pesados, ricos em ilmenita, zircão, rutilo (TiO2) e monazita ((Ce,La,Th)PO4). No Rio de Janeiro e na Bahia, a explotação desses recursos minerais foi exercida pela Nuclemon (Nuclebrás Monazita S.A.), na década de 70, sendo posteriormente sucedida pelas Indústrias Nucleares Brasileiras (INB), cuja base operacional situa-se na localidade de Buena, no lito- ral Norte do Estado do Rio de Janeiro. No litoral da Paraíba, a exploração de ilmenita e rutilo é exercida na jazida de Mataracá, pela empresa Millenium Inorganic Chemicals, que produz cerca de 80 mil toneladas de dióxido de titânio, respondendo por cerca de 62% do mercado nacional deste produto (www.dnpm.gov.br).
Na Plataforma Continental brasileira ocorrem áreas com concentrações anômalas, apresen- tando teores acima de 0,5% de minerais pesados na amostra total. Na plataforma continental Norte/Nordeste, as anomalias situam-se ao largo de Salinópolis (PA) e no trecho Jaguaribe- Apodi, onde ocorrem teores entre 0,5 e 2,4%. Na plataforma continental Nordeste-Leste, foram detectadas concentrações com teores superiores a 1%, nas áreas ao largo das desembo- caduras dos rios Pardo e Jequitinhonha (BA) e Doce (ES), além de trechos defronte às cidades
de Itapemirim e Guarapari (ES), até a cidade de Itabapoana (RJ). São ocorrências de zircãoilmenita, com concentrações secundárias de monazita em certos trechos. Entretanto, as maiores concentrações (teores de até 5% de minerais pesados) situam-se em paleocanais
afogados ao largo do delta do rio Paraíba do Sul (RJ). Aí, o mineral principal é a ilmenita, seguida pelo zircão, rutilo e monazita. Na plataforma Sudeste-Sul, entre Iguape (SP) e Paranaguá (PR), teores anômalos de ilmenita (0,6 a 1,4%) são também relacionados a paleo- canais afogados. Na plataforma do Rio Grande do Sul, ao largo das lagoas Mirim e dos Patos, ocorrem três áreas com teores anômalos de zircão e ilmenita, em frente à barra de Rio Grande (teores de até 2,4%) e, as mais importantes, ao largo do Farol de Albardão, que apresentam teores localmente superiores a 1% e a 5,4%, principalmente de ilmenita.
Fosforitas
As fosforitas são utilizadas principalmente como fertilizantes para correção de solos e ocorrem como depósitos mistos fosfáticos-carbonáticos, superficiais e subsuperficiais, cujo principal mineral é a fluorapatita carbonática (Ca5(PO4,CO3,OH)3(F,OH)). Desenvolvem-se freqüentemente sob forma de pelotas ou nódulos de diâmetros variáveis, entre 0,1 mm e alguns centímetros, chegando a formar de camadas centimétricas a camadas de até deze- nas de metros de nódulos de fosforitas intercalados com quantidades variáveis de material sedimentar detrítico
Devido às impurezas, os teores máximos de fosfato são da ordem de 30% nesses de- pósitos. Normalmente, eles são formados nos oceanos a profundidades máximas de mil me- tros em associação com águas de ressurgência, ricas em nutrientes, que são responsáveis pela proliferação da biota, resultando na concentração anômala de fósforo. Essas situações normalmente ocorrem nas margens continen- tais Oeste dos continentes (mas também localmente nas margens Leste), onde o fenômeno de ressurgência apresenta mais intensidade, e nos montes submarinos com rochas calcárias e vulcânicas. Em ilhas oceânicas, como na Ilha de Páscoa no Pacífico, depósitos de fosfatos de cálcio, conhecidos por guano, são formados pela reação das rochas carbonáticas com o excremento de pássaros, ricos em fósforo.
Os principais produtores atuais de fosforitas são os Estados Unidos (Carolina do Norte e Flórida) e o Marrocos. Outras áreas com potencial exploratório situam-se ao largo da Califórnia (EUA), no Oeste da América do Sul, na África do Sul e Leste da Nova Zelândia.
Ao largo do Brasil, as principais ocorrências de fosforita situam-se nos pla- tôs marginais do Ceará e de Pernambuco
RECURSOS MINERAIS METÁLICOS SUPERFICIAIS
Entre os principais recursos metálicos que ocorrem no fundo submarino, estão os nódulos e as crostas polimetálicos, ricos em ferro, manganês e cobalto, e os depósitos hidrotermais, ricos em sulfetos de ferro, cobre, zinco e óxidos e silicatos de ferro e de manganês.
Nódulos polimetálicos
Os nódulos polimetálicos são concreções de óxidos de ferro e manganês, presentes na superfície do piso marinho, com significativas quantidades de outros elementos metálicos, economicamente importantes, tais como níquel, cobre e cobalto. Sua descoberta é atribuída à expedição oceanográfica Challenger (1873-1876), sendo posteriormente mais extensivamente estudados a partir da década de 60, reconhecendo-se então seu potencial econômico. Estima-se em centenas de bilhões de toneladas o total dos recursos metálicos associados às ocorrências atualmente conhecidas.
Comumente, os nódulos atingem dimensões de 1 cm a 10 cm de diâmetro e apresentam estrutura interna em camadas concêntricas de óxidos de ferro e manganês, intercalados com silicatos de granulação fina, grãos detríticos e componentes biogênicos (Figuras 5.28 e 5.29). O crescimento das camadas concêntricas normalmente se dá em torno de um núcleo de natureza diversa, que pode ser um grão detrítico.
A origem dos nódulos vem sendo muito debatida em torno de diferentes aspectos, tais como a fonte dos elementos químicos que os constitui; os mecanismos pelos quais esses elementos são trazidos ao local de reação; os processos de precipitação e o crescimento envolvido na formação dos nódulos.
Em geral, aceita-se que os nódulos de manganês são formados em ambientes sedimentares inconsolidados subaquosos, estáveis o suficiente e com baixas taxas de sedimentação para per- mitir que o fluxo de manganês não seja diluído por outros componentes sedimentares. Necessita- se ainda de condições oxidantes durante o processo de formação (MORGAN, 2000).
As seguintes hipóteses principais para a fonte de manganês foram reunidas por Bonatti e Nayudu (1965), sendo ainda atualmente aceitas e discutidas:
1. Origem hidrógena – formados pela lenta precipitação dos metais a partir da coluna d’água;
2. Origem hidrotermal – precipitação a partir de soluções hidrotermais derivadas de fontes e vulcões submarinos;
3. Origem diagenética – formados a partir da remobilização de manganês e outros metais existentes na coluna sedimentar e sua reprecipitação na interface sedimento-água;
4. Origem halmirolítica – derivados da reprecipitação dos metais liberados a partir do intempe- rismo submarino de rochas e detritos vulcânicos.
A ação de organismos, extraindo os metais da água do mar, transportando-os para a interface sedi- mento-água e liberando-os, após a morte e a dissolução das carapaças, também tem sido considerada um mecanismo responsável, ou pelo menos facilitador, pela formação dos nódulos (CRONAN, 1980).
As taxas de crescimento dos nódulos são muito baixas, da ordem de apenas 1 a 4 milímetros por milhão de anos (KU, 1977; KENNETT, 1982). Sabendo-se que, mesmo nas áreas oceânicas profundas, as menores taxas de sedimentação são da ordem de 1 metro por milhão de anos, é necessária a interveniência de algum mecanismo para que os nódulos não sejam soterrados e permaneçam na superfície do fundo submarino. Algumas possibilidades foram aventadas, tais como ação de correntes de fundo, carreando os sedimentos ou rolando os nódulos, e ação de organismos (CRONAN, 1980; KENNETT, 1982).
Grandes províncias de nódulos polimetálicos situam-se nas regiões de baixa sedimentação terrígena, principalmente no Oceano Pacífico, mas também nas planícies abissais do Atlântico e do Índico (Figura 5.30).
A composição e as percentagens relativas dos elementos químicos são bastante variáveis entre nódulos de diferentes tamanhos e de regiões oceânicas distintas, conforme se observa na tabela a seguir.
Em algumas ilhas do Pacífico equatorial, como as de Cook, Central Line, Kiribati e Tvalu, tem havido exploração dos nódulos potencialmente econômicos (CRONAN et al., 1989).
No Atlântico Sul existem acumulações im- portantes na bacia oceânica da Argentina e na região Oeste da elevação do Rio Grande, ao lar- go do Estado de Santa Catarina. Na bacia oceâ- nica do Brasil, segundo Xavier e Costa (1979), podem ocorrer concentrações expressivas.
Na margem continental brasileira foram constatadas ocorrências de nódulos polimetálicos e de crostas de ferro-manganês em águas relativamente rasas do platô marginalde Pernambuco (MELO et al., 1978; XAVIER
Crostas de ferro e manganês
Esses depósitos, que se desenvolvem sob forma de incrustações, normalmente apresentam teores em manganês entre 15 e 31%, com ferro entre 7 e 18%, sendo por isso, às vezes, denomi- nados de crostas de manganês. Eles têm sido estudados mais intensamente no oceano Pacífico, onde ocorrem nos flancos de montes submarinos, recobrindo afloramentos ou blocos rochosos em profundidades entre 1,1 mil e 3 mil metros e, mais raramente, no topo de platôs.
O interesse principal nesses depósitos reside nos seus teores de cobalto (média de 0,8% e má- ximo de 2,5%) e, secundariamente, de manganês e platina (CRONAN, 1992), sendo, portanto, chamados de crostas de manganês ricas em cobalto.
As mesmas hipóteses sobre as origens dos metais para formação dos nódulos polimetálicos aplicam-se para a gênese das crostas de ferro e manganês, assim como os principais fatores responsáveis pelo transporte e pela extração dos metais na interface de afloramento-água.
Exemplos mundiais desses depósitos têm sido encontrados no Pacífico Norte, nas ilhas havaianas e na ilha Johnston. Nessas regiões, as maiores espessuras estão associadas aos flancos dos montes submarinos mais velhos da cadeia havaiana. Outras ocorrências importantes foram encontradas no Pacífico equatorial e em diversas ilhas do Pacífico Centro-Sul.
Na margem continental brasileira, no platô de Pernambuco, situado entre 800 e 4 mil metros de profundidade, depósitos de ferro e manganês (nódulos e crostas), desenvolvem- se em certos trechos dos seus flancos, entre aproximadamente mil e 3 mil metros. Esses depósitos têm teores elevados de cobalto (mé- dio de 0,65% e máximo de 1,5%) e de platina
(MELO et al., 1978; MELO e GUAZELLI,1978)
Depósitos hidrotermais
Esses depósitos abrangem os sulfetos polimetálicos e os sedimentos metalíferos a eles associados, constituídos de sulfetos de ferro, cobre, zinco, de óxidos e silicatos de ferro e de óxidos de manganês, formados por processos hidrotermais vulcânicos submarinos.
Os depósitos hidrotermais são formados pela penetração e pela percolação das águas oceânicas em fendas e fissuras existentes nas rochas. Nesse percurso as águas se enriquecem de metais que são posteriormente precipitados no seu retorno ao oceano. Esses metais preci- pitam-se nas proximidades do eixo das cordilheiras mesoceânicas, onde ocor- rem edifícios vulcânicos submarinos e fraturas, associados aos limites de placas litosféricas. Nessas regiões, que possuem alto fluxo de calor, formam-se as fumarolas, que são como fontes sub- marinas de água enriquecida em metais dissolvidos das rochas vulcânicas do fundo submarino pela percolação de água aquecida em fissuras e fraturas da rocha (Figura 5.33).
As taxas de acumulação dos sedimentos metalíferos dependem da intensidade da atividade vulcânica nos centros de expansão, mas também estão associadas à ação das correntes oceânicas de fundo, que agem no sentido de transportar os sedimentos para longe da fonte.
Alguns exemplos mundiais de ocorrências de depósitos hidrotermais foram registrados na cadeia do Leste do Pacífico, no rifte de Galápagos e na Cadeia Juan de Fuca (LANGE, 1985;SCOTT, 1987), no Mar Vermelho (MANHEIM, 1974; BIGNELL et al., 1976) e no Pacífico, em limites convergentes de placas oceânicas, associados a riftes e centros de expansão nas bacias junto aos arcos de ilhas vulcânicas (URABE, 1989).
As pesquisas em torno de depósitos hidrotermais no Atlântico Sul ainda são incipientes e não resultaram na confirmação de nenhum sítio importante; no entanto, as probabilidades de se encontrarem depósitos hidrotermais, principalmente nos centros de expansão da cor- dilheira mesoceânica. No Brasil, existe grande potencial de estudos ao largo do arquipélago de São Pedro e São Paulo (Figura 5.34).
RECURSOS MINERAIS SUBSUPERFICIAIS
Os recursos minerais subsuperficiais submarinos associam-se a rochas sedimentares antigas, situadas principalmente nas margens continentais. Os depósitos principais, em termos econô- micos, são o petróleo, o gás natural, os hidratos de gás, os evaporitos (entre os quais os sais de potássio e magnésio), o enxofre e o carvão. A fosforita, que pode ser tanto superficial como subsuperficial, já foi tratada anteriormente neste capítulo. Os recursos energéticos (petróleo e gás natural) serão tratados com mais detalhe neste mesmo capítulo.
Evaporitos e enxofre
Evaporitos são depósitos de sais solúveis, como o sal de cozinha (halita, NaCl), que ocorrem nas bacias sedimentares mundiais, muitas vezes formando espessas camadas interestratificadas com outros sedimentos carbonáticos e terrígenos, e que são explorados principalmente por seu conteúdo de potássio, magnésio e enxofre.
Acredita-se que sua origem esteja relacionada à intensa evaporação da água salgada, em ba- cias com circulação restrita. A evaporação concentra os sais em solução, que se precipitam nos seus pontos de saturação, dos menos aos mais solúveis.
A ordem de precipitação dos evaporitos é: o calcário (CaCO3), a anidrita, (CaSO4), a halita, (NaCl) com pequenas quantidades de CaSO4, a polialita (K2SO4.MgSO4.2CaSO4.2H2O) e a silvita e carnalita (KCl+KCl.MgC12.6H2O). As duas últimas seqüências (sais de potássio e magnésio) variam freqüentemente de acordo com a temperatura e com os cristais pré-formados (ROCHA, 1979).
A formação do enxofre elementar, associado aos evaporitos em domos, dá-se pela redução do sulfato da anidrita para gás sulfídrico, por ação de bactérias na presença de hidrocarbonetos e subseqüente oxidação do gás sulfídrico para enxofre (ROCHA, 1979).
Os evaporitos estão presentes em quase todas as margens continentais do mundo, incluindo a atlântica. Eles podem ocorrer como camadas estratificadas ou como estruturas dômicas
(diápiros). Os domos de sal na Plataforma Continental do Golfo do México são explorados para extração dos sais de enxofre a eles associados.
Grandes acumulações de evaporitos, depositados em águas rasas durante os estágios iniciais de formação do oceano Atlântico, ocorrem nas bacias marginais do Leste do Brasil, desde a bacia de Santos até a bacia de Sergipe-Alagoas, a maioria delas com estruturas dômicas (Figura 5.35). Os depósitos da bacia de Sergipe-Alagoas foram explorados pela empresa Petromisa, subsidiária da Petrobras, na mina de Taquari Vassouras, Estado de Sergipe, até o ano de 1992. A partir des- se ano, a jazida foi arrendada pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), sendo, atualmente, a única unidade produtora de cloreto de potássio no Brasil. Suas reservas são estimadas em 13,5 milhões de toneladas, com produção atual de 550 mil toneladas/ano, retiradas de uma mina subterrânea, onde o minério é extraído de profundidades de 460 metros. Essa produção
corresponde a 15% da demanda brasileira do produto (CVRD, 2001).
Carvão
A formação do carvão dá-se pela acumulação de restos vegetais, posteriormente transforma- dos por desidratação diagenética, pela ação de bactérias e pela elevação de temperatura e pres- são. Durante o processo, ocorre perda de oxigênio, gerando enriquecimento de carbono.
Exemplos mundiais de ocorrências de carvão no mar, como prolongamento de depósitos continentais, são registrados nas plataformas continentais da Grã-Bretanha, do Japão, do Canadá e da Austrália.
Segundo Rocha (1979), na margem continental ao largo do Brasil ainda não foram constata- das ocorrências de carvão, nem por amostragem nem por perfilagens sísmicas. Entretanto, existe a possibilidade da extensão, para a plataforma continental, do carvão contido nas rochas sedi- mentares da Formação Rio Bonito, da bacia do Paraná. Esses depósitos, porém, são restritos ape- nas a pequenos trechos da plataforma, próximos à faixa costeira do Estado de Santa Catarina.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O petróleo, que possui importante papel na produção mundial de energia, é explorado pre- ferencialmente no mar em diversos países costeiros, entre os quais o Brasil. Outros depósitos minerais marinhos também têm sido minerados economicamente, com destaque para os placeres de diamantes na África do Sul e Namíbia e os placeres de outros minerais pesados, ricos em minerais industriais, como a ilmenita, a monazita, o zircão e a cassiterita. Areias e cascalhos litoclásticos e bioclásticos também constituem importantes recursos de minerais para construção civil e para corretivo de solos, explorados principalmente nos países industrializados.
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Muitos depósitos minerais, que hoje encontram-se em áreas emersas, foram formados sobre condições submarinas, como por exemplo os depósitos de sulfetos metálicos existentes na pro- víncia canadense da Colúmbia Britânica (PETER et al., 1999). Portanto, os estudos de distribui- ção, concentração e gênese dos depósitos minerais marinhos fornecem também subsídios para a elaboração de modelos destinados à caracterização dos depósitos de origem marinha, atualmente encontrados no continente. Os recursos minerais marinhos hoje devem ser entendidos como pre- dominantemente estratégicos.
Como signatário da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, o Brasil, por ser país costeiro, “tem direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos e não-vivos, das águas subjacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo, e no que se refere a outras atividades com fins econômicos”. Nesse sentido, é dever do Estado promover o conhecimento de seu solo e subsolo marinho, para que possa, no futuro, reivindicar a soberania sobre sua explotação.
No Brasil, desde o final da década de 80 do século passado, com o término do Projeto de Reconhecimento da Margem Continental Brasileira, o Projeto REMAC, não são feitos novos es- tudos sistemáticos de nossa margem visando ao reconhecimento de recursos minerais metálicos
e não metálicos, com exceção do petróleo e do gás natural. Cabe ao País o imenso desafio de
fazer valer sua soberania, promovendo o conhecimento pleno desses recursos, para garantir seu
aproveitamento em prol das gerações futuras.
de: CLEVERSON GUIZAN SILVA SIDNEY LUIZ DE MATOS MELLO
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