1 – INFLUÊNCIA DAS CORRENTES OCEÂNICAS NO CLIMA DO BRASIL
ANTÔNIO CLÁUDIO MAGALHÃES VIEIRA DANIELLE SARA CORREIA ALVES EMMA GIADA MATSCHINSKE
Aproximadamente 75% do nosso planeta são cobertos por água e, por esse motivo, a Terra é apelidada de “Planeta Azul”. Além de atuar como celeiros biológicos, que conservam milhões de espécies-chave na cadeia alimentar, realizar a absorção do gás carbônico pela fotossíntese marinha feita por alguns tipos de alga (Barbieri, 2004), servir como fonte de alimento, por meio da pesca e do cultivo de diversas espécies marinhas, e proporcionar rotas de comércio entre os países, os oceanos têm uma outra função extremamente importante: atuar como agente regulador do clima global.
Os oceanos podem armazenar enorme quantidade de energia solar, liberando essa energia progressivamente, sem que a temperatura da água varie de maneira sensível durante esse processo. Tal propriedade da água (calor específico) torna o conjunto dos oceanos, incluin- do o “oceano atmosférico” formado pelas nuvens, um grande regulador do clima e dos fenômenos meteorológicos.
Devido à inclinação do eixo terrestre, a faixa intertropical – entre os Trópicos de Câncer e de Capricórnio – recebe consideravelmente mais radiação solar do que as áreas mais próximas aos pólos. Porém, ao longo dos anos, podemos verificar que as regiões equatoriais não sofrem um aquecimento contínuo, por período indefinido, tampouco as regiões próximas aos pólos se tornam progressivamente mais frias.
Isso acontece devido às correntes marítimas, responsáveis pela condução de calor do Equador para os pólos, regulando as temperaturas do planeta. Em sua maioria, essas correntes são geradas pelos ventos, que transferem energia para os metros superiores dos oceanos, colocando a água em movimento e transportando energia e calor de um lugar para outro do oceano.
As correntes marítimas podem ser identificadas pelas diferentes temperaturas que apresentam. Logo, em função de sua temperatura e da região de origem, elas podem ser classificadas como:
• Correntes quentes – provenientes de zonas equatoriais, como a das Guianas, a do Golfo do México (Gulf Stream), a do Brasil e a Sul Equatorial;
• Correntes frias – oriundas das regiões polares ou frias, como a do Labrador, a de Humbolt, a das Malvinas, a de Benguela e a Circumpolar Antártica.
No Oceano Atlântico, a Corrente Sul Equatorial, que flui de leste para oeste, ao encon-trar a costa Nordeste do Brasil, bifurca-se, originando a Corrente do Brasil, que corre na direção sul, e a Corrente das Guianas, que segue para Noroeste, em direção ao Caribe. Ambas são correntes superficiais quentes que se deslocam próximo à costa. Nos dias ensolarados, na maior parte das regiões tropicais do Brasil, como nas Regiões Norte, Nordeste e Sudeste durante o verão, o ar existente sobre os continentes é constantemente aquecido durante o dia, tornando-se menos denso e elevando-se na atmosfera, sendo substituído por ar mari- nho, relativamente mais frio, dando origem à brisa marinha, ou, simplesmente, brisa. O processo inverte-se à noite quando o ar que flutua sobre os oceanos torna-se relativamente mais quente que o ar sobre os continentes e é por ele substituído, gerando a brisa terrestre, ou terral. Esse duplo processo interfere significativamente na variação das condições meteorológicas das regiões costeiras, determinando o regime de ventos e, em determinadas situações, as tempestades localizadas.
No litoral Sudeste, especialmente na região de Cabo Frio (RJ), ocorre, por vezes,
um fenômeno interessante, que abaixa a temperatura da água do mar a até 14ºC, nos meses de janeiro e fevereiro. Isso acontece devido ao vento, que, no verão, sopra constantemente da direção nordeste. Assim, esse vento constante empurra as águas da superfície, que haviam sofrido insolação e, portanto, estavam aquecidas (em torno de 26ºC), para oceano aberto. Origina-se, então, uma lacuna de água junto à costa, que é preenchida por águas profundas, bem mais frias, que sobem e atingem a superfície. A ascensão das águas frias e ricas em nu- trientes é chamada de ressurgência, e, nos locais onde ela ocorre, normalmente, é observada grande atividade pesqueira. Esse fenômeno pode provocar intensos nevoeiros ao longo de todo o litoral Sudeste do Brasil.
2 – AS CORRENTES MARINHAS DO BRASIL
ELIANE CRISTINA TRUCCOLO EMMA GIADA MATSCHINSKE FERNANDO LUIZ DIEHL
O litoral brasileiro estende-se por aproximadamente 8,5 mil quilômetros e é todo margeado pelo Oceano Atlântico Sul. Sobre essa vasta superfície oceânica sopram os ventos que irão origi- nar movimentos conhecidos como correntes marinhas superficiais, com a importante função de carregar calor e nutrientes para regiões onde estes são escassos, como por exemplo calor para as regiões polares e nutrientes para as regiões equatoriais.
Algumas correntes marinhas superficiais são muito velozes, como a Corrente do Golfo, na costa Leste dos Estados Unidos da América (EUA), cuja velocidade pode ser superior
a 2 m/s. Essa corrente é uma das mais estudadas, pois transfere o calor gerado nas baixas latitudes para as regiões mais frias da Costa Oeste Européia, exercendo função primordial no aquecimento do continente europeu.
Os ventos que dão origem às correntes marinhas equa- toriais são os alísios, que sopram em direção às regiões equatoriais da Terra. São ventos perma- nentes que sopram de sudeste, no Hemisfério Sul, e de nordeste, no Hemisfério Norte, também comuns aos outros oceanos. Na porção oeste do Oceano Atlântico Sul, na costa Nordeste do Brasil, a Corrente Equatorial Sul é interceptada pelo continente sulamericano, sendo desviada para sul e para norte, formando as correntes do Brasil e das Guianas, respectivamente. A Corrente das Guianas é conhecida também, na sua porção inicial, como Corrente Norte do Brasil.
A corrente que domina toda a região próxima à borda da plataforma continental na costa do Brasil é a Corrente do Brasil, que toma a direção sul, começando a aproximadamente 10°S, na proximidade do litoral de Pernambuco, e se estendendo até aproximadamente 35-40°S, no norte da Argentina. Essa corrente carrega águas aquecidas denominadas de Água Tropical, entre 18°C e 28°C, e tem valores médios de salinidade entre 35,1 a 36,2 ppm. Tal característica é similar na Corrente do Golfo, o que não ocorre em termos de velocidade, pois raramente a Corrente do Brasil ultrapassa a velocidade de 0,6 m/s. A Água Tropical ocupa os primeiros 200 metros de coluna de água na região da quebra da plataforma continental, o que identifica a Corrente do Brasil .
Na borda da plataforma e em toda a extensão do litoral ocorre a Corrente do Brasil com a Água Tropical. No Sul, próximo à Argentina e ao Uruguai, ocorre a Corrente das Malvinas, com a Água Subantártica. Abaixo das correntes superficiais do Brasil e das Malvinas, ocorre a Água Central do Atlântico Sul, de menor temperatura. Essa água é resultante da mistura das águas quentes e frias das correntes do Brasil e das Malvinas, respectivamente, na Convergência Subtropical. Como tem menor temperatura e maior densidade, circula por baixo das Correntes do Brasil e das Malvinas, porém, pode chegar à superfície em diversos locais próximos à costa do Brasil (Cabo Frio-RJ e Cabo de Santa Marta-SC). A subida à superfície recebe o nome de ressurgência e ocorre, principalmente, no verão, devido aos ventos provenientes de Nordeste.
3 – EL NIÑO E LA NIÑA
ANTÔNIO CLÁUDIO MAGALHÃES VIEIRA EMMA GIADA MATSCHINSKE DANIELLE SARA CORREIA ALVES
É importante observar que os oceanos e a atmosfera vivem um processo de interatividade perma- nente. A evaporação que se produz nas regiões quentes e úmidas da Terra transfere vapor de água para a atmosfera, que se encarrega de transportar esse vapor para áreas mais secas do globo terrestre.
A precipitação está diretamente relacionada com movimentos verticais ascendentes, os quais são determinados principalmente pela circulação atmosférica geral de 0 a 12 quilômetros de alti- tude. Considerando a Circulação Geral como o movimento médio da atmosfera durante um certo número de dias, e acompanhando a sua evolução durante um período bastante amplo, podemos compreender diversos fenômenos que nela se produzem.
Foi assim que, em 1969, o cientista norueguês Bjerknes propôs a existência de uma célula de circulação no plano vertical ao longo do Equador, no Pacífico, denominada de “Circulação de Walker”, em homenagem a Sir Gilbert Walker, primeiro cientista a pesquisar as varia- ções horizontais de temperatura e pressão sobre a superfície oceânica e suas implicações nas variações climáticas no globo terrestre.
Em condições normais observam-se águas superficiais relativamente mais frias no Pacífico Equatorial Leste, junto à costa Oeste da América do Sul, e mais aque- cidas no Pacífico Equatorial Oeste, próximo à costa australiana e região da Indonésia. Os ventos alísios sopram de leste para oeste, favorecendo a ressurgência próximo à Costa Leste da América do Sul.
Como já vimos, o clima no mundo é profundamente afetado pelas correntes marítimas. A importância das correntes fica notória quando elas sofrem alterações. O maior exemplo dessa importância ocorre na costa ocidental da América do Sul, quando a corrente de Humboldt, que vem do sul e normalmente traz água fria à superfície e, com ela, minerais e outros nutrientes para alimentar enormes cardumes de peixes, é substituída por uma contracorrente de norte para sul. O aparecimento dessa contracorrente ao longo da costa do Peru foi observado por pescadores entre os portos de Pacaia e Pacasmayo, sempre logo após o Natal, e foi por isso chamada de El Niño (o menino Jesus, em espanhol). O surgimento dessa contracorrente vem acompanhado de chuvas em lugares normalmente secos e de seca em locais normalmente chuvosos.
A Circulação de Walker sofre em anos de El Niño, com o ramo ascendente (convecção intensa) sobre a região de águas aquecidas e o ramo descendente sobre a Amazônia e o nordeste do Brasil, o que resulta na inibição de convecção e, conseqüentemente, redução de precipitação sobre essas áreas.
As condições que indicam a presença do fenômeno El Niño são o enfra- quecimento dos ventos alísios e o aumento da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) no Oceano Pacífico Equatorial Leste. Como conseqüência, ocorre uma diminuição das águas mais frias que afloram próximo à Costa Oeste da América do Sul.
O El Niño é, portanto, um fenômenoatmosférico-oceânico caracterizado por um aquecimento anormal das águas superficiais no Oceano Pacífico Tropical e que pode afetar o clima regional e global, mudando os padrões de vento em nível mundial, afetando, assim, os regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias.
Agora você deve estar pensando: ora, La Niña, como é o oposto, deve ser o resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial e tem seus efeitos exatamente opostos ao El Niño! Não é bem assim.
O termo La Niña (a menina, em espanhol) surgiu por caracterizar-se como oposto ao El Niño. Pode ser chamado também de episódio frio, ou ainda El Viejo (o velho, em espanhol). Algumas pessoas chamam o La Niña de anti-El Niño; porém, como El Niño se refere ao menino Jesus, anti-El Niño não seria então um termo apropriado.
O termo mais utilizado hoje é La Niña.
As condições que indicam a presença do fenômeno La Niña estão associadas à intensificação dos ventos alísios e ao declínio da Temperatura da Superfície do Mar no Pacífico Equatorial Leste. As águas adjacentes à Costa Oeste da América do Sul tornam-se ainda mais frias, devido à intensificação do movimento de ressurgência.
4 – NÍVEL DO MAR
MARCELO FRICKS CAVALCANTE
O Brasil possui um litoral com aproximada- mente 8,5 mil quilômetros de extensão. Ao longo dessa costa, e em toda a Amazônia Azul, são desen- volvidas diversas atividades, muitas das quais de relevância socioeconômica, tais como: atividades portuárias, de pesca e aqüicultura, assim como de exploração de recursos minerais. Muitas das prin- cipais cidades brasileiras são litorâneas e têm no turismo e nas atividades recreativas importantes fontes de renda e são vulneráveis às variações do nível do mar para fins de saneamento e de defesa civil e demarcação do Patrimônio da União. Dentro desse contexto, faz-se importante o estudo das variações do nível do mar.
COMO MEDIR O NÍVEL DO MAR?
O nível do mar necessita ser monitorado, não só na costa, como também em águas oceânicas. O equipamento básico de toda estação que monitora o nível do mar é o Marégrafo, que essencialmente consiste em um medidor que detecta e registra essa variá- vel por meio de diversos sistemas, tais como: flutuadores, sensores de pressão, contatos elétricos, pulsos acústicos, bolhas, radar, etc.
Porém, para que as medições do nível do mar sejam corretamente interpretadas, elas de- vem estar referenciadas a pontos fixos em terra, cuja altitude e variações devem ser precisamente conhecidas e monitoradas continuamente.
POR QUE MEDIR O NÍVEL DO MAR?
O correto monitoramento do ní- vel do mar possibilita a realização de estudos científicos sobre as causas de suas variações, assim como possibili- ta prever os impactos de seus efeitos, principalmente sobre o litoral, em períodos que podem variar de horas, como por exemplo o efeito das marés, até anos, como por exemplo a alte- ração da configuração de uma praia.
Dentre as diversas aplicações práticas do monitoramento do nível do mar, podemos destacar: a previsão de marés; o seu emprego na modelagem numérica; a calibração de satélites altimétricos e os estudos de variações climáticas, como o fenômeno El Niño.
QUAIS SÃO AS POSSÍVEIS CAUSAS DA VARIAÇÃO DO NÍVEL DO MAR?
Movimentos verticais da crosta terrestre, ocasionados por processos tectônicos; degelo dos pólos; aquecimento global dos oceanos – efeito estufa; variações nas correntes oceânicas.
O QUE É MARÉ?
Oscilação vertical da superfície do mar (ou outra grande quantidade de massa de água), sobre a Terra, causada primeiramente pelas diferenças na atração gravitacional da Lua e, em menor extensão, do Sol sobre os diversos pontos da Terra.
Devido aos movimentos relativos Sol-Terra-Lua, as marés se comportam como movimentos harmônicos compostos.
COMO É REALIZADO O MONITORAMENTO DO NÍVEL DO MAR NO BRASIL?
No Brasil, o monitoramento do nível do mar é realizado por meio da Rede Brasileira Permanente de Monitoramento do Nível do Mar, do Programa Global Sea Level Observing System – Sistema Global de Observação do Nível do Mar (Gloss-Brasil), coordenado pela Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN), da Marinha do Brasil. Todas as informações coletadas, ao longo de nossa costa e ilhas oceânicas, são transmitidas para o Banco Nacional de Dados Oceanográficos, da Marinha do Brasil, e para diversos centros internacionais do Programa Gloss. Essas informações contribuem para o monitora- mento e a interpretação das variações do nível do mar, e fenômenos relacionados, em nível global.
5 – EROSÃO COSTEIRA
JOSÉ MARIA LANDIM DOMINGUEZ (MODIFICADO)
O QUE É EROSÃO COSTEIRA?
A linha de costa é sem dúvida uma das feições mais dinâmicas do planeta. Sua po- sição no espaço muda constantemente em várias escalas temporais (diárias, sazonais, decadais, seculares e milenares). A posição da linha de costa é afetada por um número muito grande de fatores, alguns de origem natural e intrinsecamente relacionados à dinâmica costeira, e outros relacionados a intervenções humanas na zona costeira (obras de engenharia, represamento de rios, dragagens, etc.).
Como resultado da interação entre esses vários fatores, a linha de costa pode avançar mar adentro, recuar em direção ao continente ou permanecer em equilíbrio. Quando a linha de costa recua em direção ao continente, fala-se que ela está experimentando erosão.
O fenômeno de erosão torna-se um problema para o homem quando este constrói algum tipo de referencial fixo (estrada, prédio ou outro tipo de construção permanente), que se interpõe na trajetória de recuo da linha de costa. Desse modo, o problema de erosão, conforme apontado por vários autores, é de certa maneira causado pelo homem, pois se ninguém morasse próximo à linha de costa esse problema não existiria. Deve-se ressaltar que o proble- ma de erosão não se restringe apenas às linhas de costa oceânicas, podendo também ocorrer em praias associadas a corpos d’água interiores, como lagoas e lagunas.
Em escala mundial, alguns autores estimam que cerca de 70% das linhas de costa estejam experi- mentando erosão, mas o fenômeno não implica destruição da praia arenosa, como o termo, à primeira vista, parece sugerir. A posição da praia simplesmente recua continente adentro durante esse processo. Desse modo, alguns autores sugerem que, em vez de erosão, seja utilizado o termo “recuo da linha de costa”, visto que este último traduz de maneira mais fiel o que realmente acontece. Como o problema resulta essencialmente de um conflito entre um processo natural, o recuo da linha de costa, e a ativida- de humana, a sua solução passa necessariamente pela questão do uso do solo na zona costeira.
Tentativas de se estabilizar a posição da linha de costa, por intermédio de obras de engenha- ria (molhes, muros de contenção, etc.), têm-se mostrado ineficientes em controlar o fenômeno e comumente implicam a destruição da praia recreativa. Entretanto, em alguns casos extremos,essa é a mais efetiva e rápida maneira de defesa do patrimônio público ou privado.
QUAIS OS FATORES DETERMINANTES DO FENÔMENO DE EROSÃO NA ZONA COSTEIRA BRASILEIRA?
Trabalhos já realizados na zona costeira do Brasil mostram que os principais casos de erosão reportados podem ser entendidos e explicados como:
• o resultado intrínseco dos padrões de dispersão e transporte de sedimentos na zona costeira;
• o resultado de intervenções humanas na zona costeira, seja pela da construção de obras de engenharia, seja pelos usos inadequados do solo.
Esses casos de erosão não apresentam relação direta com uma possível subida do nível relativo do mar, embora este fator não possa ser totalmente descartado. Talvez, a ênfase dada ao fator subida do nível relativo do mar, para explicar o recuo da linha de costa no Brasil, decorra do fato de que grande parte da literatura produzida no mundo sobre o assunto seja oriunda dos EUA, onde efetivamente a principal causa da erosão da linha de costa está relacionada à migração de ilhas- barreiras em resposta a uma elevação do nível do mar. Assim, a análise do fenômeno de erosão na costa do Brasil tem de partir necessariamente de um conhecimento da situação local.
O fenômeno de recuo da linha de costa (erosão) pode ser analisado em várias escalas tem- porais e espaciais. Essencialmente, o comportamento de um determinado trecho da linha de costa é resultado do balanço de sedimentos para esse trecho. O balanço de sedimentos nada mais é que a aplicação do princípio da continuidade ao transporte e à deposição de sedimentos (créditos e débitos de sedimentos). Assim, se para um determinado trecho da linha de costa o balanço de sedimentos é positivo, a linha de costa avança mar adentro, e se esse balanço é negativo, a linha de costa irá recuar em direção ao continente. Se o balanço é zero, a posição da linha de costa se mantém fixa.
GESTÃO DO PROBLEMA
O manejo do problema de recuo da linha de costa (erosão) no Brasil tem sido feito de ma- neira espontânea e desordenada, a partir de intervenções de proprietários, individualmente ou pelos municípios, normalmente após o problema já ter atingido proporções alarmantes. Muitos desses casos de erosão resultam, inclusive, de ocupação inadequada da zona (faixa) de variabilidade natural da linha de costa nas escalas de tempo sazonal e anual. Essas intervenções desordenadas normalmente se dão pela colocação de muros e espi- gões nas áreas criticamente atingidas, geralmente implicando dispêndio de somas elevadas e prejuízo estético considerável. Em áreas já densamente ocupadas, como as regiões metropolitanas, pouco pode ser feito em termos de zoneamento ou disciplinamento de uso do solo, para fazer frente ao recuo da linha de costa. Nessa situação, a estabilização da linha de costa, por meio de intervenções de engenharia (muros, molhes ou engordamento de praia), terá de ser implementada. Essas obras, normalmente, são dispendiosas e, ainda que não constituam uma solução adequada para o problema, são inevitáveis, tendo em vista a necessidade de se proteger a propriedade.
As obras de estabilização, por vezes, causam efeitos adversos, entre os quais pode-se citar a eliminação da praia recreativa, no caso de obras de engenharia rígidas. É óbvio que, devido a uma questão de continuidade, a estabilização rígida de algum trecho da linha de costa irá agravar ou originar um problema de erosão naqueles trechos situados mais à jusante. Isso pode ser claramente observado em várias capitais da região Nordeste do Brasil, a exemplo de Recife e Fortaleza.
Em áreas ainda não ocupadas, ou em vias de parcelamento, observa-se que não existe qualquer preocupação, quando do licenciamento dos empreendimentos, com o fenômeno de recuo da linha de costa. Para essas áreas ainda não ocupadas, a solução adequada seria o disciplinamento do uso do solo, com o estabelecimento de faixas de recuo. Essas faixas de recuo devem ser estabelecidas para cada trecho da linha de costa, tomando-se como base as suas taxas de recuo históricas, a incursão máxima de marés meteorológicas (quando for o caso) e as previsões futuras de subida do nível relativo do mar. Como essas taxas variam espacialmente, não devem ser extrapoladas para longos trechos da linha de costa.
Deve-se ressaltar que não existe legislação específica no Brasil que contemple o fenômeno do recuo da linha de costa. Existem, entretanto, leis que estabelecem faixas de recuo de largura variável entre 33 metros e 300 metros, a partir da linha de preamar máxima, criados com objetivos diversos, tais como a proteção da vegetação de restinga, a garantia de livre acesso da população às praias e os, assim chamados, terrenos de Marinha.
6 – PRAIAS ARENOSAS
ANTÔNIO HENRIQUE DA FONTOURA KLEIN ELIANE TRUCCOLO FERNANDO LUIZ DIEHL GLÁUCIO VINTÉM
As praias arenosas constituem um dos ambientes mais dinâmicos da zona costeira. Uma das definições mais atuais sobre praias arenosas oceânicas foi formulada por Andrew Short (1999), que definiu praias oceânicas como sendo corpos de sedimentos arenosos não coesivos e incon- solados sobre a zona costeira. São dominadas por ondas e limitadas internamente pelos níveis máximos da ação das ondas de tempestades e pelo início da ocorrência das dunas ou qualquer outra feição fisiográfica brusca. Externamente são limitadas pela zona de arrebentação.
MORFOLOGIA PRAIAL
A dinâmica costeira é a principal responsável pelo desenvolvimento das praias arenosas e pelos processos de erosão e/ou acresção que as mantêm em constante alteração. Os ventos, as ondas por eles geradas e as correntes litorâneas que se desenvolvem quando as ondas chegam à linha de costa, além das marés, atuam ininterruptamente sobre os materiais que se encontram na praia, erodindo, transportando e depositando sedimentos. Como já foi citado, somam-se a esses processos as ressacas produzidas pelas tempestades que modificam consideravelmente as feições topomorfológicas do perfil praial.
Conforme a sua exposição às ondas de maior energia, as praias podem assim ser definidas:
• praias expostas: quando estão totalmente sujeitas às ondulações
• praias semiprotegidas: quando apenas parte delas está sujeita às ondulações (
• praias protegidas: quando não sofrem influência de ondulações.
OS TIPOS DE PRAIAS ARENOSAS OCEÂNICAS
As praias arenosas oceânicas podem ser divididas em:
• praias rasas ou dissipativas: caracteriza- das por uma pendente suave, ampla zona de arrebentação e grande estoque de sedimentos na zona submersa (bancos) de granulometria de areia fina na porção submersa da praia. O nível de energia geralmente é alto, com altu- ras de ondas mais pronunciadas para regiões
expostas
• praias de tombo ou reflectivas: caracte- rizadas com uma face praial íngreme, ge- ralmente, com feições de cúspides, peque- no estoque de sedimentos subaquosos (sem bancos) e grande estoque de sedimento su- baéreo. Apresentam, geralmente, um degrau pronunciado na base da zona de espraiamen- to e uma pequena zona de arrebentação, com alturas de onda pequenas quando comparado
às praias dissipativas. Normalmente, essas praias possuem areia grossa
• praias intermediárias: as condições am- bientais que favorecem o desenvolvimento de estados intermediários incluem climas de onda de energia moderada, mas temporalmente va- riável e com sedimentos de granulometria de média a grossa. O relevo de fundo da praia é caracterizado pela presença de bancos regula- res e/ou irregulares, muitas vezes cortados por canais nos quais se desenvolvem as correntes de retorno, freqüentemente presentes nessas praias. A zona de arrebentação é relativamente próxima da beira da praia, geralmente com ondas do tipo mergulhante
ARREBENTAÇÃO DE ONDA NA PRAIA
A quebra de uma onda na praia é um processo altamente complexo e de difícil estudo, devido à distorção de sua forma, em relação à forma senoidal idealizada, mesmo que a onda esteja se propagando a alguma distância da praia e antes de quebrar.
Quando a onda rebenta, a energia recebida do vento é transferida para a praia, sendo dissipa- da. Porém, existem vários tipos de arrebentação de ondas que dependem da natureza do fundo e das características das ondas. Algumas relações entre esbeltez (altura) da onda e inclinação da praia, ou gradiente de fundo, podem ser usadas para classificar os tipos de rebentação de onda em quatro tipos, que podem ser identificados da seguinte forma:
• deslizante: tipo de quebra gradual de numerosas ondas numa ampla zona de surfe, em praias com inclinação muito suave ou fundo plano. São caracterizadas pela espuma e turbulência na crista da onda que, gradualmente, retira energia da onda, produzindo uma massa de ar e água turbulenta que cai em frente da onda. Devido à gradual extração de energia, elas têm vida longa e quebram por longas distâncias até chegarem na beira da praia.
• mergulhante ou tubular: são os tipos mais espetaculares de quebra de ondas. Caracteriza a forma clássica da onda, própria para a prática do surfe, arqueada, convexa atrás e côncava na frente. A crista curva-se e mergulha com considerável força, dissipando energia numa curta distância
• frontal ou colapsante: é o tipo de mais difícil identificação. Ocorre em praias de pendente abrupta sobre o degrau da praia e é considerado um tipo intermediário entre o mergulhante e o ascendente .
• sem onda: ocorre em praias com baixa declividade. A onda não derrama nem mergulha, mas se eleva so-
bre a praia e a face frontal da onda permanece relativamente sem quebrar até atingir a praia.
RESSACAS OU ONDAS DE TEMPESTADE
As ondas de tempestade ou ressacas são causadas pelas variações da pressão atmosférica e a atuação da tensão do vento na superfície dos oceanos.
As ressacas são ondas de pequeno período, da ordem de segundos, com grande poder destru- tivo, sendo geralmente acompanhadas por marés meteorológicas intensas, de períodos de dias. Pode ocorrer que ambas (ressacas e marés meteorológicas) estejam combinadas com as marés astronômicas de sizígia (marés que ocorrem durante as luas Nova e Cheia), de períodos de horas, causando assim consideráveis inundações em regiões costeiras pouco profundas.
O distúrbio meteorológico de maior efeito para o sul do Brasil é a passagem de sistemas frontais e ciclones extratropicais, que são acompanhados de fortes tempestades vindas do Sul e Sudeste, principalmente, durante os meses de outono e inverno. A ocorrência média desses sistemas ciclônicos é de seis eventos mensais ao longo do ano, porém, a intensidade relativa de cada evento varia sazonalmente, com os sistemas mais intensos propagando-se sobre o Brasil principalmente entre os meses de abril a outubro. Esse período é chamado de “temporada de ressacas” devido à maior intensificação dos distúrbios atmosféricos.
Os ciclones extratropicais se pro- pagam pelo sul do Oceano Pacífico, vindos da Antártica, e atravessam os Andes junto com as frentes frias com direção para Nordeste. Quando se propagam sobre a América do Sul e chegam ao Oceano Atlântico, tornam-se mais intensos, formando fortes ventos provenientes do quadrante Sul. Esses ventos são mais fortes quanto maiores forem os gradientes de pressões atmosféricas no local, soprando freqüentemente em pistas de 3 mil quilômetros de extensão e, conseqüentemente, transferindo a energia do vento para o mar,originando, portanto, as ressacas que chegam às nossas costas.
As ondas de tempestade e as marés meteorológicas são direcionadas para a costa causando inundação. Para exemplificar, observe, onde esquematicamente se discutem dois centros de pressões atmosféricas, que estão atuando combinadamente: um está sobre o continente e outro na região oceânica ao lado. Devido ao sentido de rotação de cada um, o ven- to gerado pelo gradiente de pressão atmosférica soprará do quadrante Sul. A tensão do vento na superfície do mar atuará causando o transporte de grande volume de água para norte, ou seja, paralelamente à costa. Porém, devido à rotação da Terra, cujo efeito é expresso por uma força chamada de Coriolis, toda a água que está sendo empurrada pelo vento terá sua direção altera- da. No Hemisférico Sul, o efeito da força de Coriolis é para a esquerda, ou seja, em direção à costa. Desse modo, o nível do mar sobe e ressacas e marés meteorológicas causam destruição e inundação na zona litorânea.
Durante a ocorrência de tempestades geradas pela passagem de sistemas frontais (frente frias), ocorrem os processos de sobre- lavagem ou galgamento (overwash process), caracterizados pelo transporte de sedimentos jogados pelas ondas sobre as avenidas bei- ra-mar (Balneário Camboriú) ou para reta- guarda do cordão de dunas frontais (Barra Velha). Em outras localidades, entretanto, as ondas atuam diretamente sobre o perfil praial, erodindo as dunas frontais (praia do Gravatá, em Navegantes, e Barra do Sul, SC).
O aumento significativo do nível do mar costeiro e do nível da água dentro de sistemas semi-abrigados produz conseqüências destrutivas.
DUNAS
Os sistemas de dunas costeiras, parte integrante das regiões litorâneas, desempenham importan- te função ecológica. Caracterizam-se por ser uma “zona tampão” e possuem a função, quando pre- sentes, de barrar a ação das ondas decorrentes de momentos episódicos de maior energia (ressacas) e marés meteorológicas. Sendo assim, esse ecossistema mostra-se de grande importância, apesar de ser continuamente descaracterizado morfológica e ambientalmente, devido aos distintos níveis de intervenção antrópica. Entretanto, o caráter dinâmico (rápida resposta em condições de mudança) desse sistema possibilita sua “sobrevivência” em situação de estresse, embora a perda da diversida- de paisagística e ecológica seja o primeiro indicador de sua suscetibilidade ou vulnerabilidade.
7 – O CLIMA DA AMAZÔNIA AZUL
FRANCISCO ELISEU AQUINO ALBERTO SETZER
Nossa Amazônia Azul possui características meteorológicas e climáticas próprias e muito variadas. Isso decorre de sua vasta extensão latitudinal de mais de 4 mil quilômetros entre os paralelos 5°N e 33°S, que resulta em uma superfície de quase 4,5 milhões de quilômetros qua- drados de oceano e um litoral com cerca de 8,5 mil quilômetros. Nessa escala, as regiões oceâ- nicas e terrestres necessitam ser consideradas em conjunto – e não isoladamente – para explicar o clima e o tempo da região. Para resumir seus principais sistemas meteorológicos e condições climáticas, a Amazônia Azul será dividida em três regiões: a Norte, entre o extremo norte do mar territorial brasileiro, no Amapá, e Cabo Branco, na Paraíba; a Central, entre o Cabo Branco e o Cabo de São Tomé, no Rio de Janeiro; e a Sul, desta última referência até a desembocadura do Arroio Chuí, no limite do mar territorial brasileiro com o uruguaio.
Na Região Norte, entre o Cabo Orange e o Cabo Branco, predomina uma faixa de nuvens orientada aproximadamente no sentido leste-oeste, que chega até a África e é conhecida como Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Essa faixa resulta da circulação e da convergên- cia dos ventos alísios de Nordeste, no Hemisfério Norte, e de Sudeste, no Hemisfério Sul. As nuvens dessa faixa deslocam-se ao longo do ano, ficando entre 5°N e 15°N, nos meses de julho a outubro, próximas ao Equador, entrando no Hemisfério Sul, nos meses de janeiro a abril;
FONTE: CPTEC/INPE
em períodos curtos, de poucos dias, também se observam mudanças sensíveis na sua posição.
Sua influência é marcante nas regiões tropicais e, em particular, na distribuição e na quantidade das chuvas no setor norte do Nordeste brasileiro. Essas chu- vas são do tipo convectivas e muitas vezes ocorrem na forma de fortes temporais, causando grandes prejuízos e, até mesmo, perdas de vidas. A ZCIT tem importantes efeitos regionais e, quando está mais ao Norte, ocorrem anos secos do Nordeste e temperaturas mais frias no Oceano Atlântico Tropical Sul; e vice-versa, a ZCIT mais ao sul resulta em anos úmidos no Nordeste do País e águas mais quentes no Atlântico. A massa de ar nessa região é denominada de Massa Equatorial Atlântica, cuja sigla é “mEa”.
Ao sul do paralelo 5°S, em Cabo Branco, inicia a região central, cujo limite sul é Cabo Frio, RJ. Nela há atuação marcante dos ventos alísios que sopram de leste e de nordeste em direção à costa brasileira, ao longo de todo o ano, trazendo umidade, contribuindo na formação de nuvens e, conseqüentemente, chuvas. Esses alísios ficam mais secos e fortes nos meses de junho a agos- to, com intensificação e expansão da célula de alta pressão atmosférica que domina o Oceano Atlântico entre o Brasil e a África, conhecida como Anticiclone Subtropical (AST), no caso, chamado de anticiclone de Santa Helena Assim, nessa segunda região, tanto nas áreas terrestres próximas à costa como nas oceâ- nicas, as condições meteorológicas de temperaturas, ventos e precipitação resultam em um fenômeno marcadamente sazonal: no inverno, a precipitação é maior entre o Cabo Branco e Salvador. Ao sul, a precipitação é marcadamente menor, reduzindo-se na mesma intensida- de e temperatura do ar. Dois outros fenômenos alteram as condições meteorológicas nessa região: as ondas de leste e as frentes frias. As ondas de leste são perturbações no campo de pressão da atmosfera que organizam uma calha de baixa pressão com chuvas, deslocando-
se de leste para oeste na direção da costa brasileira, sob influência dos ventos alísios. Essas ondas da atmosfera se deslocam a uma velocidade que varia entre 250 e 500 km por dia e provocam intensa precipitação. Frentes frias provenientes da região Sul do continente também atingem essa região, ocasionalmente, nos meses de maio a outubro, trazendo chuvas e quedas de temperatura significativas, além de mares agitados. Nessa região a massa de ar predominante é chamada de Massa Tropical Atlântica ou mTa.
Ao sul do paralelo 22°S, no Cabo de São Tomé, a Região Sul da Amazônia Azul estende-se até a foz do Arroio Chuí, na divisa com o Uruguai. Essa região encontra-se sob marcada influência dos ciclones extratropicais (CE) e da “Zona de Convergência do Atlântico Sul” (ZCAS). CEs, que são centros de baixa pressão atmosférica, com mais de 3 mil quilômetros de diâmetro, deslocam-se do sul do continente para nordes- te e são responsáveis pela passagem das frentes frias que atuam em toda a Região Sul da Ama- zônia Azul, chegando, em alguns casos, até o Nordeste do País. A ZCAS é definida como uma faixa de nebulosidade persistente, orientada de noroeste para sudeste, que se estende do Sul da Amazônia ao Atlântico Sul Central, sendo bem caracterizada nos meses de verão. Sua ocorrência preferencial na Amazônia Azul é ao sul do litoral baiano, na região Sudeste do Atlântico Sul, podendo persistir por vários dias e causando mau tempo na região de ocorrência.
A atuação dos CEs na região Sul da Amazônia Azul deve ser enfatizada, pois esses sistemas meteorológicos, com freqüência de até um por semana durante o inverno, propiciam a entrada de massas de ar frias que afetam intensamente o Sul e o Sudeste do País, atingindo até mesmo a Amazônia e o Nordeste. As condições durante e após a passagem dos CEs são bem distintas. Durante sua passagem, quando a frente fria predomina com ventos fortes, chuvas, nevoeiros e baixas temperaturas associados, as condições marítimas tornam-se preocupantes; as ressacas que resultam nas regiões costeiras do Sul e do Sudeste, em muitos casos, são violentas, destruindo calçadões, vias públicas, quiosques de beira de praia, ou qualquer intervenção hu- mana entre o cordão de dunas frontais e a linha de praia. Também registram-se naufrágios de embarcações pesqueiras pequenas e, conseqüentemente, óbitos. Os eventos mais intensos ocorrem no caso dos CEs que possuem ventos fortes, superiores a 60 km/h (33 nós), com trajetória paralela à costa, originando uma agitação marítima muito intensa e, por conseqüência, ressacas que afetam a costa.
Após a passagem dos CEs, dois casos devem ser destacados em função das massas de ar que trazem em sua retaguarda:
1) os que, após uma frente fria muito organizada, trazem ar do Oceano Pacífico Sul, no sentido SW ou W para NE ou E, e que, após atravessar a Cordilheira dos Andes, são frios e secos e provocam geadas;
2) os que trazem ar do Norte do mar de Weddell, na região Antártica, no sentido sul para norte, com quedas de temperatura não tão acentuadas e alta umidade, que inclusive provocam neve em algumas localidades elevadas no sul do País. Essas massas de ar são conhecidas genericamente pelo nome de Massa Polar Atlântica (MPA), embora no caso o termo polar seja incorreto, pois que são, no máximo, subpolares, do Oceano Austral. Esse oceano, que circunda o continente Antártico, está localizado entre o paralelo 60°S e a costa do continente Antártico.
E por último, ainda em relação ao Oceano Austral e seus efeitos na Amazônia Azul, é im- portante considerar a Corrente das Malvinas, que transporta as águas frias subantárticas para o Norte, ao longo da costa Leste da América do Sul, até o Norte do Rio de Janeiro. No sentido contrário ocorre a Corrente do Brasil, de origem equatorial e quente. A presença e a interação dessas massas de água afetam o clima da região costeira Sul e Sudeste, tanto em temperatura como em umidade e cobertura de nuvens.
8 – A IMPORTÂNCIA DOS OCEANOS PARA O EQUILÍBRIO
FERNANDO LUIZ DIEHL
Os oceanos e a atmosfera possuem íntima relação pelo fato de estarem estabelecendo contínua troca de massa e energia, por meio de gases, água e calor e, por essa razão, formam um sistema estreitamente integrado. Nesses complexos processos de trocas, os oceanos têm um papel importantíssimo na manutenção do equilíbrio climático da Terra que, de certa forma, é complementar e de importância com- parável à exercida pela atmosfera.
O sol, por seus raios, é responsável por, aproximadamente, 99% de toda a energia térmica que chega à superfície da Terra, provocando a evaporação diária da água dos oceanos. A água evaporada é transferida para outras regiões do planeta, sob a forma de chuva ou neve. Quando aquecidos, os oceânos armazenam parte desse calor e, também, aceleram a evaporação.
Sabemos que a água, entre as suas várias características e propriedades, possui um elevado calor específico (quantidade de calor necessária para que um grama de determinada substância possa ter sua temperatura elevada em 1ºC), ou seja, é necessário fornecer ou retirar uma grande quantidade de calor para que a sua temperatura seja alterada. Devido ao elevado calor especí- fico da água, os oceanos absorvem o calor irradiado do sol sob a forma de energia térmica, de maneira lenta e gradual, o que impede a água do mar de esquentar rapidamente e, assim, atingir temperaturas muito elevadas, o que aqueceria também a Terra. Por outro lado, após absorvido em quantidades enormes, esse calor é retido pela água e, posteriormente, liberado lenta e gradativa- mente para a atmosfera e para outras regiões mais frias (regiões de altas latitudes), freqüência e em locais diferentes, nos períodos em que esse suprimento de calor é reduzido, ou então durante a noite, ou, ainda, durante os meses de inverno. Dessa forma, a temperatura dos oceanos não varia bruscamente, pois durante o dia as massas de água absorvem lentamente o calor irradiado do sol, que é liberado à noite, também lentamente, à atmosfera. Essa propriedade da água de ter grande dificuldade em absorver calor e, também, grande capacidade de reter o calor após ab- sorvido, faz com que os gradientes térmicos (diferenças de temperatura) das grandes massas de água, como os oceanos, sejam pequenos. A temperatura dos oceanos varia no espaço entre -2ºC até aproximadamente 30ºC e, numa dada região, a temperatura varia, em média, pouco mais de 1ºC durante o curso de um dia e aproximadamente 10ºC no período de um ano.
Muito mais energia é necessária para aumentar a temperatura da água, comparativamente à do ar, o que faz com que os oceanos levem mais tempo para se aquecer e para se esfriar. Dessa forma, no final do verão, quando ocorrem maiores temperaturas e maior exposição ao sol e, conseqüentemente, irradiação solar, os oceanos ainda estão sendo aquecidos, e o ar, que ainda permanece mais quente que a água, já começar a se esfriar.
As massas terrestres formadas pelos continentes, de forma contrária, têm sua temperatura elevada rapidamente como conseqüência da irradiação solar durante o dia (como conseqüência do baixo calor específico do solo e das rochas) e, à noite, quando cessa esta irradiação, perdem calor de forma rápida, baixando a temperatura também rapidamente, o que faz com que o gra- diente térmico dos continentes seja bastante grande. Assim, por exemplo, nos desertos, durante o dia, temos altas temperaturas (superiores a 50ºC) e durante a noite esse calor absorvido no perío- do matutino é rapidamente perdido e dissipado para a atmosfera, fazendo com que a temperatura passe também em pouco tempo para temperaturas mínimas.
Esse processo de rápido aquecimento dos continentes, durante o dia, faz com que o ar sobre essas áreas também se aqueça, tornando-se mais leve, razão pela qual ele se eleva na atmosfera. Nesse momento, o ar marinho, mais frio e conseqüentemente mais “pesado”, flui em direção aos continentes, levando a brisa marinha. É por essa razão que, durante o dia, quando temos sol, o vento sopra dos oceanos em direção aos continentes e, à noite, ocorre o processo inverso, pois o ar mais quente e leve, que estava mais elevado na atmosfera, esfria-se e desce.
Nos oceanos, onde o calor absorvido durante a irradiação solar é retido pela água, as massas de ar sobre essas enormes massas de água são aquecidas e,conseqüentemente, ficam mais leves e sobem na atmosfera, sendo substituídas pelas massas de ar mais frias vindas do continente. Esses processos são extremamente importantes para a manutenção de climas mais amenos nas regiões continentais costeiras.
Numa escala de tempo maior, os oceanos são os responsáveis pela retenção (absorção) do calor durante os períodos de maior irradiação solar (verão), que será posteriormente liberado gradativa e lentamente, durante os meses mais frios do inverno. Concomitantemente, o calor intenso dos meses de verão é atenuado pelas brisas marinhas (massas de ar marinho).
Nesse complexo processo de interação entre as massas de água dos oceanos, as massas de ar da atmosfera e as massas continentais, os oceanos desempenham função primordial, como regulador térmico e climático da Terra. Como sabemos, os oceanos encontram-se em constante movimento em decorrência, principalmente, das diferenças de temperatura e, ao se moverem, redistribuem o calor ao longo de todas as regiões do planeta, o que é de importância fundamental no clima global.
O calor irradiado pelo Sol e absorvido pelos oceanos, como já mencionado, é armazenado e, posteriormente, transferido às distintas regiões do planeta pelas correntes de ar (massas de ar) e, também, pelas massas de água (correntes), seja por meio de movimentos verticais (afundamentos de massas de água superficial ou ressurgência de águas profundas) e horizontais, pelas corren- tes marítimas ou marinhas. Essas últimas constituem-se em fluxos de água de grande extensão que cruzam os oceanos da Terra, carregando grandes porções de água denominadas de massas de água. Além das correntes marinhas superficiais, existem também as correntes marinhas de profundidade, chamadas de termohalinas devido à influência da temperatura na massa de água e, então, na sua densidade. As correntes marinhas de profundidade, que carregam massas de água mais frias, circulam em maiores profundidades que as correntes marinhas que carregam massas de água mais aquecidas, pois apresentam maiores densidades.
As correntes marítimas são conhecidas há muito tempo, mas a sua influência no clima e nas variações meteorológicas só foi reconhecida recentemente. A corrente do Golfo, por exemplo, uma das mais estudadas, que nasce na região do Caribe e vai até o Norte da Europa, foi descrita em 1777 pelo norte-americano Benjamin Franklin, quando publicou a carta da Corrente Quente do Golfo (Gulf Stream) em colaboração com Timothy Folger. Entretanto, somente há poucas décadas foi descrita sua importância no aquecimento e na influência climática do Norte Euro- peu. Essa corrente, que transfere o calor gerado nas baixas latitudes para as regiões mais frias da
costa Oeste européia, à medida que vai “migrando” para o Norte vai perdendo calor. As maiores temperaturas das suas massas de água, durante os meses de inverno, facilitam a evaporação no Atlântico Norte, sob a forma de vapor mais aquecido que cria uma corrente atmosférica, a qual barra a entrada do ar frio procedente da Ásia central. Dessa forma, o ar frio asiático que se dirige em direção à Europa central é barrado, mantendo as temperaturas daquela região mais amenas.
Um marco muito importante para a oceanografia e o conhecimento das correntes marítimas foi a publicação, em 1855, do livro The Physical Geography of the Sea, de autoria de Matthew Fontaine Maury. Esse oficial da marinha norte-americana, utilizando dados recolhidos nos diá- rios de bordo de navios que cruzavam o Atlântico, estabeleceu importantes relações entre as cor- rentes e a meteorologia. Entretanto, o primeiro estudo científico sobre as correntes marinhas foi publicado por William Ferrel, em 1856, onde foram descritos os efeitos da rotação da Terra nas correntes geradas pelo vento. Mais tarde, este autor derivou a equação que relaciona o gradiente da pressão barométrica e a velocidade do vento.
Algumas correntes marinhas superficiais são muito velozes, como é o caso da Corrente do Golfo, na costa Leste dos Estados Unidos da América (EUA). Esta corrente é uma das mais estudadas, pois transfere o calor gerado nas baixas latitudes para as regiões mais frias da costa Oeste Européia, exercendo função primordial no aquecimento do continente europeu. Sua velocidade pode ser superior a 2 m/s.
9 – CAMADA DE OZÔNIO
O QUE É A CAMADA DE OZÔNIO?
A Camada de Ozônio é uma concentração de gás ozônio situada na alta atmosfera, entre
10 km e 50 km da superfície da Terra. Ela funciona como um filtro solar, protegendo todos os seres vi- vos dos danos causados pela radiação ultravioleta (UV-B) do sol. A absorção do UV-B por essa espécie de escudo cria uma fonte de calor, desempenhando papel fundamental na temperatura do planeta.
Mas, algumas substâncias produzidas pelo homem, como os gases clorofluorcarbono (CFC)
– utilizados durante anos em geladeiras, condicionadores de ar, sprays, etc., vêm atacando essa camada protetora, levando a uma diminuição desse filtro. O resultado é que uma quantidade muito maior de raios UV-B está chegando à Terra.
A redução da Camada de Ozônio provoca efeitos nocivos para a saúde humana e para o meio ambiente. Nos seres humanos, a exposição a longo prazo ao UV-B está associada ao risco de dano à visão, à supressão do sistema imunológico e ao desenvolvimento do câncer de pele.
Os animais também sofrem as conseqüências com o aumento do UV-B. Os raios ultravioletas prejudicam os estágios iniciais do desenvolvimento de peixes, camarões, caranguejos e outras for-
mas de vida aquáticas e reduz a produtividade do fitoplâncton, base da cadeia alimentar aquática.
POR QUE A CAMADA DE OZÔNIO ESTÁ SENDO DEGRADADA?
Há um consenso mundial sobre a teoria de que o cloro contido nas substâncias químicas ar- tificiais liberadas na atmosfera é responsável pela destruição do ozônio na estratosfera. Grande parte desses compostos são constituídos pelos CFC 11, 12, 113, 114 e 115, brometo de metila e halons (agentes de extintores de incêndio – 1211, 1301, 2402). Substâncias contidas em erupções vulcânicas ou mesmo nos oceanos também agridem a camada mas, nesses casos, a natureza sempre demonstrou fôlego para se recompor. Os CFC, desenvolvidos em 1928, foram utilizados durante anos em geladeiras, condicionadores de ar, sistemas de refrigeração, isolantes térmicos e sprays.
A estrutura estável desses produtos químicos permite atacar a camada de ozônio. Sem sofrer modificações, a intensa radiação UV-B destrói as ligações químicas, liberando o cloro que separa um átomo da molécula de ozônio, transformando-o em oxigênio. O cloro atua como catalisador, levando a cabo essa destruição sem sofrer nenhuma mudança permanente, de maneira a poder continuar repetindo o processo. Estima-se que uma única molécula de CFC teria a capacidade de destruir até cem mil moléculas de ozônio.
Os mais perigosos produtos têm vida longa. O CFC-11 dura em média 50 anos, o CFC-12, em média 102 anos e o CFC-113, em média 85 anos. Portanto, as emissões dessas substâncias químicas influenciarão no processo de esgotamento da camada de ozônio durante muitos anos.
Já o brometo de metila é uma substância (gás) utilizada para a fumigação de solos, visando à eliminação de fungos, bactérias e patógenos. Também tem grande potencial de destruição da camada de ozônio.
Os gases Halons são utilizados principalmente para o combate a incêndios e também nos seguintes setores e produtos:
• refrigeração e serviços
• solventes e esterilizantes
• extinção de incêndio
• agrícola
• aerossóis (indústria farmacêutica)
• espumas
A cada primavera, no Hemisfério Sul, aparece um “buraco” na camada de ozônio sobre a Antártica, tão grande como a superfície dos Estados Unidos (20 a 25 milhões de km2). O “buraco” não é na realidade um buraco, e sim uma região que contém uma concentração baixa de ozônio. Esse termo tecnicamente incorreto dá uma idéia à opinião pública sobre a dimensão e a gravidade da situação. O problema é pior nessa parte do globo devido às temperaturas baixas e à presença de nuvens polares estratosféricas (menos de -80ºC) que retêm cloro e bromo. Com o retorno da primavera e o descongelamento das nuvens, esses elementos são liberados e reagirão com o ozônio.
O QUE O BRASIL ESTÁ FAZENDO?
No Brasil, as primeiras ações de restrição às Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio (SDO) ocorreram no âmbito da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, com a edição da Portaria SNVS nº 1, de 10.8.88, que definiu instruções para os rótulos de embalagens de aerossóis que não contivessem CFC e, logo em seguida, com a Portaria nº 534, de 19.9.88, que proibiu, em todo o País, a fabricação e a comercialização de produtos cosméticos, de higiene, perfumes e saneantes domissanitários, sob a forma de aerossóis, que tivessem propelentes à base de CFC.
A adesão do Brasil à Convenção de Viena e ao Protocolo de Montreal, além dos ajustes estabelecidos na reunião de Londres, ocorreu em 19 de março de 1990 (Decreto nº 99.280, de
6.7.90). Essa adesão forçou a elaboração de diversas normas e o estabelecimento de um plano de eliminação do uso do agrotóxico brometo de metila, além da defesa de projetos nacionais no Fundo Multilateral para a Implementação do Protocolo de Montreal.
De acordo com o que foi estabelecido no Protocolo de Montreal, o Brasil, como um país em desenvolvimento, terá até o ano 2010 para eliminar a produção e o consumo das SDO, por meio da conversão industrial e tecnologias livres. Entretanto, o Brasil resolveu diminuir o prazo para acabar com o CFC. Uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabeleceu como data limite o ano de 2007, para banir as importações dos CFC – produto que não é mais produzido no Brasil desde 1999.
Em 11 de março de 1993, o Ibama baixou a Portaria nº 27, estabelecendo a obrigatoriedade do cadastramento naquele Instituto de todas as empresas produtoras, importadoras, exportadoras, comercializadoras ou usuárias de SDO. Apesar de contar com mais de seiscentas empresas sob controle, aquele órgão detectou a necessidade de aperfeiçoamento e sistematização de seu cadastro, baixando a Portaria Ibama nº 29, em 2 de maio de 1995. Assim, determinou o fornecimento dos quantitativos anuais de cada empresa que manipule mais de uma tonelada anual de SDO até a sua eliminação, permitindo, com isso, o atendimento aos compromissos das partes em fornecer, anualmente, os dados estatísticos brasileiros ao Secretariado do Protocolo.
Outra iniciativa do governo foi a elaboração do Programa Brasileiro de Eliminação da Produ- ção e do Consumo das Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio (PBCO), encaminhado, em julho de 1994 (e atualizado em 1999), ao Secretariado do Protocolo de Montreal. O PBCO
contempla um conjunto de ações de cunho normativo, científico, tecnológico e econômico,centrado nos projetos de conversão industrial e de diagnóstico de todos os segmentos produtores e usuários, definindo estratégias para a eliminação da produção e do consumo das SDO.
O PBCO prevê, da parte do governo, o estabelecimento de política que defina reduções das cotas de produção de SDO para todas as empresas produtoras locais. Além disso, contempla estratégias de limitação gradual e proibição de importações de SDO, bem como a proposição do aumento de taxas federais/estaduais aplicáveis àquelas importações. Outras ações mais específicas compreendem:
• proibição de fabricação, importação, exportação e comercialização no mercado interno de novos produtos que contenham SDO;
• estímulo à substituição e desencorajamento do uso de SDO;
• incentivo tributário para estimular consumidores a adotarem tecnologias alternativas;
• etiquetagem (selo) para substâncias não danosas à camada de ozônio;
• criação de linhas de crédito para estimular projetos de conversão industrial para pequenas e médias empresas;
• procedimentos regulatórios complementares para produção e importação de SDO;
• programas de treinamento de técnicos e certificação de estabelecimentos de reparos em equipamentos de refrigeração;
• programas específicos de conscientização para pequenas indústrias e empresas de serviços;
• regulamentação para coibir as emissões voluntárias e fugitivas durante manutenção ou operação de equipamentos contendo SDO;
• programa de garantia de qualidade para gases reciclados e substâncias alternativas.
Evolução do buraco da camada de ozônio sobre a antártica
PERGUNTAS E RESPOSTAS
1) A costa Norte-Nordeste do Brasil recebe a influência direta de duas importantes correntes marinhas. Quais são elas e suas características?
A Corrente do Brasil e a Corrente das Guianas. Ambas são de águas quentes e constituem ramos da Corrente Sul-Equatorial, que se desloca no sentido Leste-Oeste. A partir da costa Norte-Nordeste do Brasil, a primeira se desloca para o Sul e a segunda para Noroeste.
2) A costa Sul do País, por sua vez, é durante certa parte do ano banhada por uma terceira corrente marinha. Cite seu nome e suas características.
Trata-se da Corrente das Malvinas. Proveniente da região circumpolar antártica, traz águas frias e costuma adentrar sob as águas mais aquecidas de procedência tropical.
3) O nível do mar varia em escala diuturna e também em escala temporal maior, com ou sem regularidade. Cite os fatores que levam à oscilação do nível do mar.
Em termos de nível diário, são os astros, por meio das marés, os principais causadores de oscilações regulares no nível do mar. Oscilações irregulares, porém, são muito sentidas por ação dos ventos. Em escala de longo prazo, os movimentos tectônicos, o degelo nos pólos e as
correntes marinhas são os principais agentes causadores de variações, regulares ou não.
4) Como são formadas as ondas e por que as ondas no Havaí são consideradas as mais perfeitas?
Os tipos de fundos têm influência na qualidade da formação das ondas, como se vê aqui:
a) Fundo de Areia: são bancos de areia que se modificam de acordo com as correntes e os ventos; são cercados de valas que fazem a boa formação das ondas ou não, quando elas estão com pouca força. As valas são buracos ou correntes onde a água empurrada pelas ondulações para a praia retorna ao oceano. Elas ficam sempre entre dois bancos de areia; muito boas para os surfistas, pois chega-se ao fundo com mais facilidade, como também perigosas para os banhistas, pois muitos se afogam nelas, lutando contra sua força. Exemplo de fundos de areia: Barra da Tijuca (RJ), Hossegor (França), Puerto Escondido (México).
b) Fundo de Pedra: formados perto de encostas que têm origem no mar, são fundos constantes que só dependem de uma boa ondulação vinda na direção certa. Exemplos de fundos de pedra: Rincon Point (Califórnia), Silviera (SC-Brasil). Em alguns lugares, longe de encostas, existem acúmulos de pedras que fazem ondas de boa formação no meio das praias.
c) Recifes de Coral: esse tipo de fundo se classifica de duas formas – o que se forma a partir da praia e o que se forma longe delas. Nos que se formam longe das praias, como
Pipeline e Serrambi (Pernambuco), as ondulações encontram as paredes de recifes e nelas se quebram, longe da praia, acabando nos canais (valas). Dependem de um conjunto de fatores para que se tornem realmente boas.
O outro tipo de fundo de coral se forma a partir da praia ou de fundos muito rasos que quase formam pequenas ilhotas e, pela proximidade um do outro como arquipélago, qualquer tipo de ondulação e vento proporciona um bom divertimento, fazendo ondas cujos picos muitas vezes só conseguimos alcançar com barcos. (Ex.: Cloudbraks de Tavarua em Fidji). Nesse último tipo, deve-se ter muita atenção com a variação das marés, pois, quando muito baixas, podem tornar muito perigoso o banho de mar ou a prática de esportes (os corais são muito afiados e em muitos momentos ficam expostos, podendo causar ferimentos).
Mas o que faz do Havaí um lugar com ondas tão perfeitas? A resposta é simples. Todas são praias com longas formações de fundo de coral que garantem as condições perfeitas para a for- mação das ondas. Ao mesmo tempo belas e perigosas, as ondas de fundo de coral são famosas não só pela sua perfeição, mas também por cobrarem um preço alto dos surfistas. Na lendária praia de Pipeline (Havaí), durante a temporada de ondas gigantes, não é raro encontrar surfistas na água com capacetes para proteger suas cabeças dos corais nas quedas mais fortes.
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